Acidentes Hidrográficos sobre Kenzo Tange
Álbum contendo oito fotogravuras no formato 42 x 39 cm
Impressas em papel Canson Edition Branco Antigo 250 g
Editadas em Junho de 2015 no Estúdio Baren
Editor: João Sánchez
Impressores: João Sánchez e Daniel Veloso
Edição numerada: 20
O mundo gráfico de Antonio Bokel não pode ser desmembrado de sua farta produção em outras linguagens. Agora, os grafismos se relacionam menos à escrita de rua, esta mais direta, multicolorida, às vezes pouco reflexiva e só barulhenta, e hoje se ligam a uma matriz não tão comum, um livro. Mas não o livro de artista, suporte hoje difundido com contundência por variados autores em buscas das mais diferentes possíveis _ e talvez para contrapor-se à virtualidade onipresente de nossos tempos _, e sim a publicação impressa como uma matriz de experimentações. As páginas em preto e branco de um art book sobre a obra de Kenzo Tange tornaram-se superfícies de ‘acidentes’ hidrográficos da caneta do artista, despedaçando-se, fundindo-se cromaticamente e virando outro chassi, mais instável, gestual e submetido a certa violência. Em outra operação, a posteriori, as anteriores páginas em um couché elegante se transmutaram em paisagens cinzentas, em que formas urbanas, de concreto maciço, parecem se liquefazer e dar uma tíbia materialidade ao que já foi chamado de ‘modernidade líquida’.
Cabe fazer uma importante explicação sobre a robusta obra arquitetônica de Kenzo Tange (1913-2005). Ganhador de um Pritzker, a produção do autor japonês tanto provocou delírios maravilhosos e utópicos influenciando decisivamente o agrupamento dos metabolistas como também foi elogiada por associar a tradição construtiva do país oriental a uma modernidade de primeira hora. Uma espécie de legado exposto ao risco, uma união entre contenção e organicidade, capaz de dar à imagética do país asiático algumas de suas chaves visuais recentes, emblemas de uma sociedade
despedaçar-se, desmanchar-se e buscar uma reconstituição a partir da subjetividade hiperfragmentada do autor, que cotidianamente no seu fazer de ateliê se reinventa por meio de linguagens, investigações, abordagens, materiais. O Ginásio Nacional Yoyogi, então, se encontra com o ‘minhocão’ do Rio Comprido.
Mario Gioia